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Julgamento, condenação e execução de homem em presídio gaúcho
12/10/2011

 



Presos por tráfico de drogas, roubo e estupro foram sentenciados à morte pelos próprios detentos, que se reuniram em uma galeria para tomar a decisão. A acusação é que um deles seria pedófilo.

Imagens - obtidas pelo jornal O Pioneiro, da RBS - de uma câmera de vigilância da galeria A da Penitenciária Regional de Caxias do Sul, mostrando a execução de um preso, dão provas do controle exercido por determinados grupos de apenados dentro da cadeia. Às vésperas de completar três anos, há muito a prisão deixou de ser modelo no Estado e referência no tratamento penal no país, qualidades propagandeadas à época de sua inauguração.

O presídio do Apanhador virou um depósito de criminosos como outro qualquer: degradado, insalubre e violento. Quem dá as ordens e comanda o que acontece dentro das galerias é a massa carcerária.
 
O Estado perdeu poder de tal forma que a juíza da Vara de Execuções tem que consultar presos antes de transferir apenados de galeria. Contrariar uma decisão dos detentos pode resultar em morte.
 
Foi assim em maio passado, quando detentos instauraram o tribunal do crime no Apanhador. As imagens reveladas agora pelo jornal da RBS seriam de um "julgamento" ocorrido em 12 de maio deste ano.

A série de imagens começa com a cúpula de presos que domina a galeria em uma reunião, no segundo pavimento. Enquanto eles conversam, criminosos de celas do segundo andar descem para a área de convivência, onde outros presidiários acompanham a movimentação de longe.

Na reunião no segundo piso é decidido o destino de Anderson Rodrigues, 29 anos, e de Marcos Vinícius Pacheco Pereira, 27 anos. Os chefes da galeria atuam como juízes, promotores e advogados. Em rápido julgamento, decidem matar Rodrigues - que fora encaminhado à cadeia para o cumprimento legal de uma pena de 37 anos e cinco meses de prisão por roubos e estupros.
 
Decisão tomada no julgamento sumário, a cúpula desce por uma escada até a área de convivência e convoca uma reunião com todos os recolhidos no espaço.

A reunião dura cerca de três minutos, tempo suficiente para que todos os detentos tomem conhecimento da sentença do tribunal do crime. Em seguida, a massa carcerária parte para cima de Pereira. Um grupo chuta e esmurra o rapaz, condenado por tráfico de drogas. As agressões são rápidas.

Criminosos então se armam com espadas artesanais. Em seguida, as atenções dos presos se voltam para Rodrigues. Cinco segundos após, o rapaz tomba pela primeira vez. É golpeado nas costas, com estocadas.
 
Mesmo ferido, ele levanta e corre em direção à entrada da galeria. A tentativa de fuga dura apenas dois segundos. Uma voadora no rosto derruba-o outra vez. Nesse instante, câmeras flagram o momento mais impressionante: criminosos se armam com espadas artesanais e golpeiam inúmeras vezes o colega de cadeia.

Rodrigues insiste na fuga, mas cai outra vez, fora do campo de visão da câmera. Ali, recebe os golpes finais. Instantes depois, agentes retiram o corpo da galeria. Pereira, que havia sido espancado, aproveita a oportunidade para deixar a galeria e é encaminhado ao atendimento médico.

“Cabeça de lata” assume morte no lugar de outro

Depois da retirada do corpo da galeria A, os chefes do espaço convocam uma nova reunião, que se prolonga por quatro minutos. Ao final desse tempo, está decidido quem será o “cabeça de lata” da galeria. A gíria é usada para definir um preso que assume crimes no lugar de outros.

Jonatas Rodrigues Alves, 25 anos, foi escolhido para assumir o assassinato de Anderson Rodrigues. Ele confessa o crime, mas depois volta atrás em seu depoimento.
 
Procurado pelo jornal Pioneiro, Alves disse que não falaria nada sem a orientação de seu advogado.
 
Marcos Vinícius Pacheco Pereira também se calou.
 
Outras manifestações
 
De acordo com o delegado regional da Polícia Civil, Paulo Roberto Rosa da Silva, a lei do silêncio está emperrando a investigação:

Nossa maior dificuldade é identificar os presos que participaram das agressões. Mas estamos empenhados em elucidar esse crime.

Segundo o diretor da penitenciária, Roniewerton Pacheco Fernandes, um processo administrativo disciplinar foi instaurado, mas não há definição.

A juíza Sonáli da Cruz Zluhan, titular da Vara de Execuções Criminais admite que o Estado perdeu o controle: "Hoje é necessário consultar em cada galeria qual é o preso que pode entrar para cumprir pena porque os detentos tomaram conta. Não tenho como resguardar a integridade física de um preso no momento em que ele não é aceito na galeria. Eles estão soltos o dia inteiro e acabam acontecendo as mortes, como a que ocorreu. A perda do controle na penitenciária tem como causa a ausência de um projeto de ressocialização adequado para o modelo de tratamento penal proposto durante a construção da cadeia."

Fonte: www.espacovital.com.br