Desde setembro deste ano, todas as comarcas do Tribunal foram informatizadas com processos judiciais eletrônico no âmbito cível (separação, indenização, ações de família, contratos bancários, de locação, falências e concordatas, desapropriações...). A digitalização trouxe grande redução nos gastos com água, papel e de logística no transporte dos processos. A economia foi de quase 4 bilhões de litros de água ao ano e 22 mil resmas de papel. O aumento de processos eletrônicos reduziu as despesas com insumos (papel, grampos, capas plásticas, elásticos, tintas para impressora), com economia de quase 800 mil reais por mês. "E há, ainda, os benefícios de sustentabilidade. É muita árvore que deixamos de cortar com essas medidas", observa Vilela.
Com o emprego dessas ferramentas, diversas rotinas de trabalho passaram a ser executadas automaticamente, evitando o retrabalho e o desperdício de tempo. Alguns setores tiveram redução de demandas, o que viabilizou a realocação de servidores para outros setores que se encontravam com quadro defasado. O processo eletrônico permitiu, ainda, que as partes e seus advogados tenham acesso ao seu processo pela internet em qualquer lugar. Em certos casos, as intimações, sobretudo de órgãos públicos, são feitas na forma eletrônica, evitando despesas com remessa de documento e deslocamentos dos procuradores e advogados.
Na avaliação do desembargador, os advogados deverão, constantemente, atualizar-se e se preparar para o novo cenário da advocacia 4.0, que inseriu a tecnologia na execução de tarefas rotineiras e repetitivas. "As mudanças no mundo tecnológico ocorrem em curtos intervalos de tempo e as inovações são constantes. O advogado que quiser manter-se no mercado de trabalho terá de se reinventar na mesma velocidade", afirma. A tendência, diz Vilela, é que as tarefas mecânicas e repetitivas sejam realizadas pela máquina, e não pelo homem. "A cognição humana deve ser reservada aos procedimentos que realmente demandam análise e valoração de dados, pois a sensibilidade do profissional não poderá ser substituída", diz. A tecnologia é uma escada infinita que ajudará o advogado e o magistrado, assim como os demais operadores do Direito, a realizar tarefas importantes, avalia o magistrado. "Mas, não os substituirá, eis que nossa consciência é exclusiva. Não antevejo um juiz robô", diz.
Os conhecimentos básicos de informática (pacote office, windows e internet) já não bastam para o advogado. "O novo profissional precisa conhecer de programação e, especialmente, gestão e análise de dados", afirma Fabiano de Almeida Rodrigues, sócio do Coimbra e Chaves Advogados e responsável pela área de Inovação 4.0 do escritório. Fabiano é também professor de Direito Tributário no Instituto de Educação Continuada (IEC), da PUC-MG e avalia que os avanços tecnológicos têm permitido ao advogado enfoque em questões mais estratégicas e complexas no desempenho de suas atividades.
A advocacia 4.0 exigirá uma mudança completa do profissional. "O advogado, além de conhecer leis e processos, precisará ler, interpretar e utilizar dados na execução de suas tarefas, o que hoje não é esperado dele", afirma Fabiano. Além disso, diz, a criatividade tem papel cada vez mais relevante na advocacia: "O novo advogado vai precisar de uma capacidade analítica de interpretação de dados". Sendo assim, a escola vai precisar introduzir conteúdos cada vez mais relevantes para o novo cenário tecnológico. "Será preciso, além do ensino do Direito, criar cadeiras específicas de informática avançada e programação, além de estimular o pensamento criativo", diz o professor. O mundo jurídico vai ganhar uma nova forma de operação.
Geórgea Choucair
Fonte: www.revistaencontro.com.br