Notícias

Certidão de Rubens Paiva é corrigida para apontar morte por tortura
24/01/2025

Nesta quinta-feira, 23, a certidão de óbito de Rubens Paiva, ex-deputado morto durante a ditadura militar brasileira, foi retificada para registrar que sua morte decorreu de ação violenta do Estado brasileiro durante a ditadura militar.

Conforme a nova versão do documento, a causa da morte é descrita como "não natural; violenta; causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964".

A certidão anterior, emitida em 1996 pelo cartório da Sé, em São Paulo, após esforços de Eunice Paiva, esposa de Rubens, apenas registrava seu desaparecimento em 1971.  

  (Imagem: Reprodução)

Certidão de óbito de Rubens Paiva foi retificada para constar morte causada pelo Estado brasileiro.(Imagem: Reprodução)
Quem foi Rubens Paiva?

Rubens Beyrodt Paiva nasceu em 1929, em Santos/SP, e formou-se em engenharia civil pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Ele foi eleito deputado Federal pelo PTB em 1962. Durante seu mandato, destacou-se como vice-presidente de uma CPI que investigava o IPES - Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais e o IBAD - Instituto Brasileiro de Ação Democrática, organizações acusadas de financiar conspirações contra o governo João Goulart.

 

Rubens se tornou um dos primeiros parlamentares cassados pelo golpe militar de 1964, por meio do Ato Institucional nº 1.

Devido à cassação, se exilou brevemente na Iugoslávia, e em seguida, voltou ao Brasil, estabelecendo-se no Rio de Janeiro.

Em 1971, foi preso em sua residência no Leblon por agentes do regime militar e levado ao DOI-Codi, onde morreu sob tortura. Seu corpo nunca foi encontrado.

A morte de Rubens Paiva foi confirmada pela CNV - Comissão Nacional da Verdade, instituída em 2012 para investigar violações aos direitos humanos ocorridas no regime militar.

A trajetória do ex-deputado é detalhada no filme "Ainda Estou Aqui" (2024), dirigido por Walter Salles, com atuações de Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro. Baseada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado, a obra narra a história de Eunice Paiva, esposa de Rubens, destacando sua luta por justiça.  

Na mesma quinta-feira, Fernanda Torres foi indicada ao Oscar de melhor atriz pelo desempenho no filme, que também foi indicado às categorias de melhor filme e melhor filme internacional.

Notificação

A mudança foi realizada em cumprimento à resolução 601/24, do CNJ, que orientou cartórios a corrigirem ou emitirem documentos referentes a 434 mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura militar brasileira. A Arpen - Associação de Registradores de Pessoas Naturais do Brasil notificou todos os cartórios do país para cumprirem a resolução do CNJ.

As novas certidões de óbito serão emitidas gratuitamente e poderão ser solicitadas pelos familiares das vítimas ou por qualquer interessado.

A entrega dos documentos está prevista para fevereiro, após os cartórios concluírem o envio das certidões atualizadas ao ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

Agora, os documentos deverão indicar que o óbito não foi decorrente de causa natural, mas de morte violenta causada pelo Estado no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política, durante o regime ditatorial instaurado em 1964.

As corregedorias-gerais dos tribunais estaduais serão responsáveis por ressarcir os cartórios pelos custos das retificações realizadas.

Resolução

A resolução 601/24, que atribui responsabilidade ao Estado pelas mortes e desaparecimentos de perseguidos políticos durante a ditadura militar, foi aprovada em 10/12/24, data que marcou os 76 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

O ato normativo 0005496-97.2024.2.00.0000 foi relatado pelo presidente do CNJ, ministro Luís Roberto Barroso, durante a 16ª sessão ordinária do CNJ, e aprovado por unanimidade pelos conselheiros.

Essa medida atende a recomendações feitas pela CNV - Comissão Nacional da Verdade em relatório de 2014, alinhadas às determinações da CIDH - Comissão Interamericana de Direitos Humanos sobre presos políticos, desaparecidos e mortos.

Antes da decisão do CNJ, as certidões traziam apenas referências à lei 9.140/95, que reconheceu como mortas as pessoas desaparecidas em razão de participação, ou acusação de participação, em atividades políticas entre 2/9/61 e 15/8/79.

Informações: CNJ.

Fonte:migalhas.com.br

Mais Lidas