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BUENOS AIRES - Aos 71 anos, o juiz Eugenio Zaffaroni, um dos membros da Corte Suprema de Justiça da Argentina que fez parte da renovação do tribunal promovida pelo ex-presidente Néstor Kirchner, teve de explicar nos últimos dias por que em cinco dos 15 apartamentos que aluga em Buenos Aires funcionam prostíbulos clandestinos. Primeiro, Zaffaroni criticou a "imprensa sensacionalista" e "este tipo de jornalismo que persegue e busca desequilibrar a pessoa acusada". Depois, o juiz, considerado um dos mais fiéis aliados do governo Kirchner no Poder Judiciário, explicou que desconhecia seus inquilinos e que tudo estava nas mãos de imobiliárias encarregadas de alugar e administrar os imóveis.
No entanto, segundo reportagem da revista "Notícias" no início deste ano um dos prostíbulos fora denunciado por uma vizinha, e advogados de Zaffaroni tentaram engavetar o expediente, alegando que o proprietário do imóvel era um juiz da Corte Suprema. O caso também foi investigado e denunciado pela ONG La Alameda, que combate diferentes tipos de escravidão e que, em 2009, entregou um relatório ao Procurador Geral da Nação, Esteban Righi, com informações sobre 600 prostíbulos portenhos. A lista incluía os apartamentos de Zaffaroni.
- É evidente que Righi jogou nossa denúncia no lixo - lamentou a deputada Fernanda Gil Lozado, da opositora Coalizão Cívica, que participou do trabalho realizado pela ONG. - Aqui a vítima não é ele e sim as mulheres que eram exploradas.
Em carta publicada por jornais argentinos, o juiz admitiu que "até agora verificamos quatro (apartamentos) nos quais é possível que seja verdade (a existência de um prostíbulo)". Zaffaroni disse que tentará recuperar os imóveis como puder.
- Durante esta semana verei se será pelo bem, ou se terei de iniciar processos judiciais para desalojar os inquilinos - disse o juiz, que nos últimos dias foi uma das personalidades mais procuradas pela mídia local.
Mas Zaffaroni só fala com meios de comunicação e jornalistas que defendem o governo, entre eles Victor Hugo Morales, em cujo programa de rádio o juiz se atreveu até a fazer brincadeiras sobre o caso. "Agradeço o escândalo, graças a ele vou evitar processos por desalojamento", disse o juiz.
Mas a Casa Rosada não está achando nenhuma graça, já que Zaffaroni é considerado um dos juízes mais próximos da presidente Cristina Kirchner. Nos últimos meses, circularam vários rumores sobre supostos encontros secretos entre a presidente e o juiz na residência oficial de Olivos, para discutir uma possível reforma constitucional que seria implementada caso Cristina consiga reeleger-se nas eleições presidenciais em outubro.
Por Janaína Figueiredo
Fonte: www.oglobo.com